quarta-feira, 3 de março de 2010

Novo Material para Construção

GESSO MAIS RESISTENTE




Desenvolver materiais a base de gesso para aplicação na construção civil é o objetivo de uma pesquisa desenvolvida entre o Instituto de Física da USP-São Carlos e a empresa Inovamat Inovações em Materiais Ltda, com apoio da Fapesp, Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e do Programa Habitare. A idéia é produzir estruturas de gesso com elevada resistência mecânica para substituir, em alguns casos, o uso do cimento na construção civil. Os estudos têm mostrado que é possível preparar placas de gesso com adição mínima de água para satisfazer a reação de hidratação. Dessa forma, são obtidas peças mais densas e, portanto, de alta resistência mecânica.
Além disso, o gesso é material não combustível, 100% reciclável, de baixo custo, não causa poluição em sua fabricação e seu uso na construção civil ajuda a reduzir o emprego indiscriminado de madeira. Segundo o pesquisador da USP-São Carlos, Milton de Souza, também diretor presidente da empresa Inovamat, há duas formas conhecidas de gesso: o mineral e o fosfogesso, ou o sulfato de cálcio hidratado, que resulta da produção de fertilizantes fosfatados. Na região Sudeste, há montanhas desse rejeito industrial, encontradas, por exemplo, em Cubatão e no norte de Minas Gerais. O problema é que o fosfogesso, devido ao tamanho de suas partículas, não podia ser empregado na produção de placas. Por isso mesmo, as pesquisas se concentraram num novo método de preparação de gesso e seus compósitos, chamado Ucos: o fosfogesso é moído e aquecido a uma temperatura de 100ºC. Torna-se, assim, um sulfato de cálcio hemi-hidratado, conhecido como reboco.
"Com pouca água, o gesso passa a ter outro tipo de consistência. O material não vira uma pasta e sim um pó umedecido que, ao ser comprimido, gera peças mais fortes até do que as de concreto", explica Souza. O novo material é também mais resistente do que o gesso utilizado regularmente na substituição das divisórias internas pela construção civil. Essas estruturas, conhecidas como dry wall, apresentam alta capacidade de absorção de água, e, por conta disso, desenvolvem baixa resistência à compressão e à flexão.
A nova técnica permite que o produto seja usado em paredes internas e externas, piso, forro e como isolante térmico e acústico. O isolamento térmico e acústico, bem como o aumento da resistência à flexão, ao impacto e a redução da densidade, são alcançados nos compósitos gesso-fibra, que podem ser obtidos usando fibras de papel, coco, tronco de bananeira ou fibras lignocelulósicas. Isso permite, inclusive, pensar em aplicar esse gesso na indústria moveleira.
Uma casa de aproximadamente 50 metros quadrados, utilizando como material básico essas placas de gesso, está sendo construída em São Carlos. A idéia é mostrar que o material é resistente e substitui tranqüilamente o cimento. Depois de inaugurada, a casa servirá ainda para estudos complementares para a medição de radiação. "O fosfogesso usado, por exemplo, nos Estados Unidos é altamente radioativo. Sabemos que o material brasileiro é bem menos radioativo, mas queremos confirmar isso através de pesquisa", diz Milton de Souza. Para que o novo material chegue ao mercado, é preciso que haja parcerias com empresas dispostas, inclusive, a investir na construção de maquinários para produção em larga escala das placas. A Inovamat não tem esse objetivo, já que pretende funcionar como um centro de pesquisa privado. Se a parceria for realizada, a previsão é que em 10 anos as placas de gesso estejam disponíveis aos consumidores.

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